Seminário sobre Leishmaniose Visceral em Floripa: uma data para entrar na história da saúde pública e da defesa dos animais em Santa Catarina.


Dr. André Fonseca
Quem leu o post anterior já está contextualizado para este. Separei os dois porque um é mais pessoal, o outro mais técnico, mas mesmo neste pretenso texto técnico, é impossível separar a emoção dos fatos científicos, principalmente quando estes refletem diretamente na vida de quem tanto amamos: cães (e gatos).
No dia do seminário, Floripa amanheceu belíssima, já tendo recebido nosso querido Fowler na manhã de sexta-feira com um dia igualmente bonito e agradável. Apesar da felicidade de conhecer pessoalmente o Fowler, meu querido amigo virtual de alguns anos e de quebra ainda ter a honra de iniciar uma amizade com dr. André Fonseca, a ansiedade para as palestras era imensa. Quando o assunto é leishmaniose visceral, como diz o Fowler, nada é fácil ou simples.
Com uma presença muito abaixo do esperado, mas que reflete a falta de consciência e de interesse da população e da classe médico veterinária em geral, o seminário foi aberto pelas afiliadas da WSPA Brasil representadas pelas figuras do Halem, do Instituto Ecosul, e da Shalma, da APRAP. E para quem se apegou na "falta de interesse", sim, achei um absurdo o auditório não estar abarrotado de veterinários, que foram suficientemente avisados do evento e que tinham obrigação até mesmo moral de estar lá. Felizmente os vets em quem confio lá estavam, o que só reforçou minha admiração por eles e segurança em correr pra eles quando preciso e quando os recomendo.
Shalma e Halem, abrindo o seminário.
Na sequência os representantes da saúde municipal tomaram a bancada (depois relaciono aqui os nomes de todos os presentes). Achei as explicações e a palestra do sr. Anselmo, Diretor da Vigilância em Saúde da PMF, condizentes com o esperado dos órgãos oficiais de saúde pública. A novidade ficou por conta da civilidade dos presentes, tanto do lado de lá, quanto do lado de cá da bancada, fato para o qual o mano Fowler chamou a atenção ao conversarmos sobre o seminário durante o jantar, porque não é o que geralmente acontece em outras cidades/situações. Palmas pra Floripa! ;-)
Além disso, eu sinceramente não estava esperando qualquer tipo de satisfação mais detalhada por parte deles, o que foi muito produtivo, principalmente quando foi a primeira satisfação oficial com relação à leishmaniose visceral em Florianópolis. A simples presença das equipes da Secretaria da Saúde e da Vigilância em Saúde já demonstra a força que o movimento de defesa dos animais tem em Florianópolis, já que inclusive na programação divulgamos a presença de um ou outro órgão, na véspera fomos informados de que ninguém iria e no sábado, voilá, estavam os dois lá representados e em peso!
Início da apresentação dos órgãos oficiais.
Muitas explicações e perguntas depois, pausa para esticar as pernas.
A palestra após o coffe break foi, especificamente no que diz respeito aos meus interesses em ajudar os animais de Florianópolis e região, a mais válida. Os motivos? São dois: quem a proferiu, o Prof. MSc. Mário Steindel, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia do Centro de Ciências Biológicas da UFSC, não só é um cientista e alguém não ligado à proteção animal, como na plateia ainda havia alguns representantes da Prefeitura de Floripa (a maioria foi embora após a apresentação deles) e estes inclusive debateram algumas das colocações do professor Mário e dos presentes.
Professor Mário Steindel
Traduzindo: representantes dos órgãos oficiais de combate à zoonoses ouviram de maneira não só clara e fundamentada, mas isenta, que é impossível dizer que um cão tem a leishmaniose visceral apenas a partir da sorologia positiva, único método que o Governo Brasileiro exige para decretar a morte de milhares e milhares de animais saudáveis (e de quebra para deixar de eutanasiar cães verdadeiramente contaminados com a leishmaniose visceral, e aqui não entro no mérito de contestar a eutanásia deles ou não, porque isto não interessa a quem trabalha com saúde humana). Apenas um exame parasitológico é capaz de detectar o protozoário da leishmania visceral no animal. Apresentar sorologia positiva inclusive pode ser resultado de um falso positivo ou indicar leishmaniose tegumentar, doença que o Governo Brasileiro não combate com a matança de cães (ao menos isso!). Para piorar, doenças como erlichiose e até sarna demodécica podem dar positivo nos exames de sorologia para leishmaniose visceral.
Para quem ainda não entende a importância destas informações, a posição oficial dos órgãos da saúde é obedecer à ordem estadual/federal: matar todo e qualquer cão que seja testado para leishamiose visceral e que apresente sorologia positiva, mesmo que sem sintomas (e, de acordo com o parágrafo anterior, mesmo que provavelmente SEM ESTAR DOENTE OU SEQUER INFECTADO!). Qual a maior preocupação de quem defende os animais? Que as pessoas tenham ao menos o direito legal de testar seus cães de maneira correta para a partir daí, decidir se optam ou não pela eutanásia ou se estão dispostos a se comprometer com o tratamento destes animais.
Opa! Tratamento de cães com leishmaniose visceral?? Sim! O que nos leva às palestras da tarde...
Fowler T. Braga Filho
A palestra do nosso querido Fowler Braga abriu a tarde não só com informações relevantes sobre prevenção e dados sobre a ausência de prova científica no papel do cão enquanto hospedeiro relevante o suficiente no aumento de leishmaniose visceral em humanos a ponto de justificar o assassinato de milhares de cães anualmente no Brasil, como emocionou a todos e demonstrou um pouco do amor que nós conhecemos tão bem e que nos leva a estudar alternativas para evitar a morte de animais inocentes, tão vítimas da doença e do inseto transmissor quanto nós. Durante o seminário o querido Fowler recebeu a triste notícia de que duas de suas filhas peludas, Menina e Xuxa, haviam falecido, uma com 12 e outra com 20 anos. Pena que na parte da tarde ninguém da Prefeitura de Florianópolis tenha retornado ao seminário...
Na verdade, mais do que uma pena, a ausência de representantes da Prefeitura na parte da tarde e a pouca presença da comunidade e de médicos veterinários foi lamentável, porque não existe pessoa interessada em leishmaniose visceral, seja defensora de cães ou não, que possa se considerar informada sobre o tema sem entrar em contato com as informações que o dr. André Fonseca oferece em suas palestras e site. E, cargas d'água, o homem estava ali, em carne, osso e simpatia! Não só amabilíssimo, mas super disponível a nos ajudar nesta luta que está apenas começando. Informação é tudo em um momento tão crucial. Felizmente tivemos a presença de representantes de ONGs de outras cidades, como a Sueli Amaral, daHACHI_ONG de Blumenau, e a Jovane Bottin, da Voluntários Amigos do Bicho, de Chapecó.
Jovane, que veio lááá de Chapecó, eu, Sueli e Shalma.
Falar das palestras do dr. André, médico veterinário e advogado, é algo simples e difícil ao mesmo tempo.
Dr. André Fonseca, no início de sua primeira palestra
Simples porque são maravilhosas, a primeira focando nos aspectos médicos da doença, mostrando o quão vítima o cão é, e não só da leishmaniose, mas principalmente da ignorância e do medo humanos, apresentando alternativas viáveis, baratas e eficazes de tratamento e de prevenção à leishmaniose visceral e demonstrando cientificamente que não só há outros hospedeiros da doença, como o cão não merece ser considerado o principal deles; a segunda focando nos aspectos legais do problema, demonstrando que a portaria que estabelece a eutanásia dos cães com sorologia positiva sequer é lei e não só pode, como deve ser contestada por quem deseja tratar seus animais e deveria ser inclusive derrubada, já que está mais do que na hora do Brasil abrir os olhos para fatos comprovados: matar cães não ajuda a diminuir os casos de leishmaniose visceral, pelo contrário, só temos visto a doença crescer e se espalhar. E a palestra (quem quiser pode me solicitar que envio por e-mail!) demonstra isto com provas e mais provas científicas.
E difícil, porque são informações que demandam estudo e reflexão e que mereciam um comparecimento absurdo, a ponto de haver lugares faltando; porque a imprensa, que tem se manifestado irresponsavelmente sem estudar o tema, deveria estar lá e porque, como dito no post anterior, não há nada fácil quando o assunto é leishmaniose visceral. Moramos em uma ilha onde praticamente tudo é banquete e berçário para o inseto transmissor da doença, invadimos a mata e agora temos que aprender a conviver com os problemas próprios à ela.
Dúvidas? Ainda tenho várias mesmo já tendo lido e me informado tanto sobre leishmaniose visceral, o que só me faz querer estudar mais e mais.
Certezas? Apenas quatro:
  • não há absolutamente nada mais eficiente no combate à leishmaniose visceral do que a educação e informações corretas sobre o tema;
  • precisamos, mais do que nunca, de união de forças para enfrentar o mosquito transmissor e a doença;
  • mais uma vez o bicho homem derrama sobre sua própria cabeça um problema ao tratar a natureza de maneira abusiva e irrefletida (e em tempos de aquecimento global, preparem-se, não só a leishmaniose tomará o mundo, como outras doenças transmitidas por insetos);
  • como sempre, quem paga a conta, são nossos irmãos animais.
Meus agradecimentos especiais: Halem Guerra (Instituto Ecosul), mentor e realizador maior do seminário, Shalma Teixeira (APRAP), parceira valorosa e co-realizadora do evento, Karla (É o Bicho), fundamental para a realização da reunião que precedeu o seminário , WSPA Brasil, patrocinadora que possibilitou a vinda dos palestrantes de São Paulo, professor Mário Steindel, pela palestra fundamental e pela busca incansável pela verdade, Dr. André Fonseca, um verdadeiro anjo dos animais, Fowler Braga (Focinhos Gelados), um gigante de coração maior ainda, Vinícius Ouriques e Alexandre Reichert, advogados e voluntários da causa animal, que conseguiram o auditório da OAB, Cláudia da Clinicão, que avisou a todos sobre os casos de leishmaniose visceral em cães de Floripa, Vivi Vieri, advogada e voluntária na luta contra os abusos cometidos em nome a leishmaniose visceral, Silviane Mafalda (Instituto Ecosul), sempre registrando tudo com bom astral, e Denise Dechen, voluntária que levou o Fowler para conhecer a área onde os casos estão restritos. Agradeço também a todos que divulgaram, aos que compareceram ao seminário e aos envolvidos na realização do evento que eu possa ter esquecido de citar.

PS: desculpem a demora em dar informações. Mas saí de casa às 7:30 da manhã de sábado e só voltei depois da meia-noite, para dormir menos de 7 horas e levantar para levar o Fowler e o dr. André ao aeroporto. Depois disso ficou difícil escapar dos deveres da casa e de dar atenção ao maridão. O Shoyo, que ficou mal e tomou até soro na sexta-feira também precisava de atenção e só na minha conta de e-mail do blog havia nada menos do que 322 mensagens novas... Fora Twitter, Orkut e Facebook pra atualizar e e-mail pessoal. Ainda vou demorar um pouco pra botar tudo em dia e conto com a compreensão de vocês. A todos que se preocuparam com o Shoyo e ao dr. Mauro da Clínica da Lagoa que não só o atendeu, mas compareceu ao seminário de manhã e de tarde, meu muito, muito, muito obrigada.
Shoyo dodói



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